Oral Completa
602-1 | Um defeito de cor: Diáspora negra e (de)colonialidade de gênero na literatura brasileira contemporânea
| Autores: | Michely Andrade 1 1 UECE - Universidade Estadual do Ceará |
Resumo: Quando pensamos o local da mulher negra no campo literário brasileiro, o que emerge são representações repletas de estereotipia. Tia Anastácia, Rita Baiana e as personagens de Jorge Amado são alguns exemplos do tratamento dado à mulher negra, revelada como objeto e não como sujeito da representação. No romance Um defeito de cor, o “Atlântico negro”, outrora retratado apenas por navegadores homens, é reinscrito sob o ponto de vista de Kehinde (Luísa Mahin), um dos símbolos de resistência do movimento negro. Mesclando elementos biográficos e ficção, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves narra a trajetória da personagem, que vai da condição de escrava na São Salvador da Bahia até tornar-se uma agudá (retornada) em Benin, na costa ocidental africana. Partindo desse universo, o trabalho apresentado analisa o tratamento literário dado à condição de vida da mulher negra diaspórica no final do século XIX. Em Um defeito de cor, a diáspora africana é representada, sobretudo, do ponto de vista intercultural, como circulação e intercâmbio de culturas. O trauma da violência colonial, por sua vez, é relembrado a partir de uma memória fragmentada e revivido junto às complexidades e trocas interculturais do Atlântico negro. Nos termos utilizados pela filósofa argentina Maria Lugones, o romance analisado promove uma releitura da sujeitificação da mulher negra, tornando visível sua subjetividade ativa e decolonial.
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