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18º Congresso Brasileiro de Sociologia
Resumo: 1349-1

Oral Curta (5 mim) - Somente GT


1349-1

A medicina contra o perfume: as teses médicas de século XIX produzidas na Bahia e o valor simbólico das fragrâncias

Autores:
NERY, S.1
1 UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Resumo:
Por que nas teses acadêmicas escritas por médicos na Bahia de século XIX somos confrontados continuamente com a afirmação de que perfumes fazem mal à saúde? Preocupados em manter e promover a saúde da população, os médicos formados na Faculdade de Medicina da Bahia, inaugurada em 1832, insistirão na defesa do caráter patológico dos aromas em contraposição ao comum uso medicamentoso do mesmo, fundado em crenças e práticas indígenas, portuguesas e africanas, bem como ao uso que poderíamos denominar "civilizado" dos aromas, conforme o qual perfumes são meio de sedução e expressão de limpeza no ambiente dos salões aristocráticos. Em suma, a medicina se coloca contra costumes cimentados no cotidiano do Brasil e igualmente ataca as práticas trazidas em inícios de século XIX pela Coroa Portuguesa. Os argumentos são inicialmente de caráter biológico, mas logo assumem perspectiva moral: os perfumes são um dos vícios decorrentes da civilização. Ora, os médicos se autointitulavam os avatares da civilização no Brasil e faziam coro ao higienismo reformador dos comportamentos e das cidades em nome da saúde pública e privada. Como compreender esse imbroglio de afirmações e argumentos, bem como a perplexidade que causa perceber o "banal" perfume como alvo de preocupações e ataques, junto ao ópio, haxixe, coca, fumo, dentre outros? A intenção, pois, deste trabalho é discutir a construção do valor simbólico do produto cultural perfume a partir do debate médico do XIX.